Você realmente não merece? Conheça a síndrome do impostor

Ilustração representando uma pessoa ansiosa diante do espelho, simbolizando os sintomas da síndrome do impostor

Imagine conquistar uma vaga de destaque, receber elogios pelo desempenho e, ainda assim, achar que tudo não passa de sorte. Como se, a qualquer momento, alguém pudesse descobrir que você não é tão bom quanto parece. Esse fenômeno tem nome: síndrome do impostor. Um padrão psicológico mais comum do que se imagina — e que pode impactar diretamente a saúde mental.

O que é a síndrome do impostor?

Apesar do nome dramático, a síndrome do impostor não é classificada como um transtorno mental nos principais manuais diagnósticos (DSM-5 ou CID-11). Trata-se de um padrão de pensamento e sentimento caracterizado por autodúvida crônica, insegurança em relação às próprias conquistas e medo de ser exposto como uma fraude, mesmo quando há provas objetivas do sucesso.

O termo foi cunhado em 1978 pelas psicólogas Pauline Clance e Suzanne Imes, que notaram que muitas mulheres de alto desempenho acreditavam não merecer suas conquistas. De lá para cá, diversos estudos mostraram que o fenômeno atinge ambos os sexos e pessoas de diferentes áreas, inclusive estudantes e profissionais de saúde.

Por que essa síndrome é tão comum?

Em tempos de redes sociais, comparações constantes e cobranças internas, é fácil entender por que tanta gente se sente “menos”. A exposição a padrões de excelência inatingíveis — muitas vezes irreais — contribui para a construção de crenças disfuncionais, como “se eu errei, então não sou bom o suficiente” ou “meus colegas são melhores do que eu”.

Além disso, ambientes acadêmicos e profissionais altamente competitivos favorecem o desenvolvimento desse padrão. É o caso de universidades de elite, empresas com foco extremo em performance ou contextos familiares com cobrança excessiva desde a infância.

Sintomas e manifestações

Os sinais da síndrome do impostor são sutis, mas consistentes. Abaixo, listamos os principais sintomas relatados por pessoas que vivenciam esse padrão:

  • Dificuldade em aceitar elogios ou reconhecimentos
    A tendência é minimizar o próprio esforço: “qualquer um faria isso”, “não foi nada demais”.

  • Medo constante de “ser descoberto” como uma fraude
    Mesmo com histórico sólido de sucesso, o indivíduo acredita que enganou os outros.

  • Autocrítica exagerada e perfeccionismo
    Erros mínimos são vistos como desastres. Há cobrança constante por resultados impecáveis.

  • Procrastinação por medo de falhar
    Evitar começar tarefas por temer que não se consiga cumprir as expectativas.

  • Ansiedade diante de avaliações ou testes
    Provas, apresentações ou feedbacks geram estresse desproporcional.

Esses sintomas não se limitam ao campo profissional: podem atingir estudantes, mães, artistas, atletas e praticamente qualquer pessoa que esteja em uma posição de responsabilidade ou visibilidade.

Impacto na saúde mental

Apesar de não ser um transtorno em si, a síndrome do impostor pode levar a problemas sérios de saúde mental, principalmente quando associada a fatores de risco, como histórico de depressão ou ansiedade.

Entre os efeitos mais comuns estão:

  • Ansiedade crônica

  • Síndrome de burnout

  • Depressão leve a moderada

  • Transtorno de ansiedade generalizada

  • Isolamento social por medo de exposição

Em longo prazo, o sentimento constante de inadequação mina a autoestima e reduz a qualidade de vida, interferindo inclusive na produtividade e nas relações interpessoais.

Dados e estudos relevantes

Um levantamento realizado em 2020 pelo Journal of General Internal Medicine mostrou que mais de 60% dos estudantes de medicina relataram sintomas compatíveis com a síndrome do impostor. No Brasil, um estudo da Revista Brasileira de Terapias Cognitivas indicou que 36% dos universitários avaliados apresentavam alto índice de autoimagem negativa e autossabotagem, compatíveis com esse padrão psicológico.

Outro dado relevante: uma pesquisa da empresa de recrutamento Robert Half revelou que 7 em cada 10 profissionais brasileiros já se sentiram “impostores” em algum momento da carreira.

Como lidar com a síndrome do impostor?

A boa notícia é que, embora desconfortável, esse padrão pode ser reconhecido e atenuado. Algumas estratégias recomendadas incluem:

  • Psicoterapia
    Especialmente a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que ajuda a identificar pensamentos disfuncionais e substituí-los por interpretações mais realistas.

  • Reestruturação cognitiva
    Refletir sobre suas conquistas de forma objetiva: anotar o que fez, como fez e o que isso exigiu de você.

  • Aceitação gradual dos elogios
    Em vez de rejeitar, agradeça. Pode parecer artificial no início, mas o hábito ajuda a reformular o pensamento.

  • Compartilhar suas dúvidas com pessoas de confiança
    Conversar com colegas ou mentores pode trazer a percepção de que você não está sozinho nesse sentimento.

  • Evitar comparações
    Cada trajetória é única. Comparar-se o tempo todo com os outros só alimenta o ciclo da autossabotagem.

Afinal, você é mesmo uma fraude?

Se você chegou até aqui, talvez esteja se identificando com alguns sintomas. A verdade é que a autocrítica faz parte da vida de qualquer pessoa comprometida com seu crescimento. No entanto, quando ela paralisa, é hora de dar atenção. Não se trata de buscar arrogância ou vaidade, mas de reconhecer o próprio valor com honestidade.

É possível conviver com o senso de humildade sem desvalorizar o que você conquistou com esforço. Lembre-se: sentir-se inadequado não significa que você é inadequado.

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